Ícone do site Quantum Finance

Fiagro de CRAs x FIIs de CRIs: semelhanças, diferenças e comparação

Fiagro de CRA versus FIIs de CRI

Imagem: Quantum Finance

O Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) seguem em alta entre alguns investidores e já surgem comparações com os fundos imobiliários. Mas até que ponto essa análise é válida? Saiba mais no texto de Katherine Rivas, com dados do Quantum Axis.

Dividendos de Fiagros de “papel” passam de 1% ao mês, mas ainda não desbancam FIIs

Com a possibilidade de a taxa Selic superar 13% ao ano e permanecer neste patamar por mais tempo do que esperado, uma nova classe de ativos inserida em um mercado crescente está entregando dividendos cada vez maiores e, por isso, ganhando espaço entre os investidores da bolsa de valores. São os Fiagro, fundos que investem nas cadeias produtivas agroindustriais. Mais especificamente, os Fiagros de “papel” que investem em CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio).

Os Fiagros são primos-irmãos dos FIIs, os fundos imobiliários. Possuem uma estrutura semelhante (ainda que haja diferenças) e os mesmos benefícios — entre os quais se destaca a isenção de Imposto de Renda sobre os rendimentos que distribuem.

Tal e qual vem acontecendo com os FIIs, em que os fundos focados em recebíveis (CRIs, ou Certificados de Recebíveis Imobiliários) são os que chamam mais atenção no momento, graças aos rendimentos polpudos, os Fiagros de CRAs também estão no foco atualmente.

Na prática, os CRAs são emitidos para que produtores rurais tenham acesso a crédito. Para tanto, eles oferecem garantias e buscam securitizadoras, que montam operações estruturadas com uma gama de CRAs distribuídos por meio de fundos – os Fiagros – aos quais os investidores têm acesso. Periodicamente, normalmente a cada mês, os produtores pagam amortização e juros dos CRAs aos Fiagros, que, por sua vez remuneraram seus cotistas com esses valores como dividendos.

Segundo Anna Clara Tenan, analista CNPI de Fiagros e FIIs da Órama, os Fiagros de CRAs e FIIs de CRIs são comparáveis e a diferença entre eles está basicamente no segmento ao qual se expõem. O Fiagro de CRA está focado na agroindústria e o FII de CRI, no mercado imobiliário. Mas ambos têm como estratégia comprar títulos de recebíveis e possuem alta demanda por conta dos dividendos elevados.

Com tantas semelhanças, os investidores, a essa altura, se perguntam que fundos rendem mais: Fiagros de CRAs ou FIIs de CRIs? Um levantamento exclusivo do Quantum Axis, realizado a pedido do InfoMoney, demonstra que praticamente todos os Fiagros de CRAs listados na B3 tiveram taxa de retorno com dividendos (dividend yield) crescente do início do ano para cá. Mas, na média, não foi o suficiente para superar o rendimento dos FIIs de CRIs.

Leia também:

FIIs com maiores Dividend Yields em 2022

O levantamento do Quantum Axis considerou nove Fiagros de CRAs com cotas negociadas na B3 e que já distribuem dividendos aos investidores. Na Comissão de Valores Mobiliários, no entanto, existe um total de 55 Fiagros registrados — nem todos, porém, com estruturas comparáveis às dos FIIs. Os dados são até do dia 31 de maio.

Esse conjunto apresenta um dividend yield médio de 1,10% ao mês, indicam os dados. Já a taxa de retorno com dividendos dos FIIs de CRIs incluídos no levantamento – um total de 67 ativos listados na B3 e com distribuição mensal de rendimentos – é de 1,17%, na média.

Pela metodologia do Quantum Axis, foram considerados apenas os Fiagros e FIIs que tenham no mínimo 65% do patrimônio investido, respectivamente, em CRAs ou CRIs, ou uma estratégia clara de investimento voltada a esses ativos. O levantamento se restringiu aos fundos com distribuição mensal de dividendos em 2022. Além disso, no caso dos Fiagros, mais novos no mercado, foram considerados aqueles com pelo menos uma negociação no mercado secundário antes de maio de 2022.

Primos com personalidades distintas

Os Fiagros de CRAs e os FIIs de CRIs são cheios de semelhanças, mas possuem personalidades distintas. Um exemplo está na indexação dos recebíveis que compõem as carteiras. Um estudo elaborado por Anna Clara, da Órama, mostra que 87% das carteiras dos Fiagros são formadas por CRAs indexados à taxa do CDI, mais um spread  (taxa adicional de juros) de 5,3% ao ano, em média, até maio. Apenas 13% dos recebíveis dos Fiagros tinham como indexador o IPCA, mais uma taxa de 8,7% ao ano.

Já nos FIIs, os indexadores mais comuns dos CRIs são índices de inflação, como IPCA ou IGP-M, por conta do perfil do mercado imobiliário. A maioria dos contratos de aluguel são reajustados por estes indicadores, explica a analista.

Em um cenário de juros elevados, ativos indexados ao CDI com uma taxa prefixada de juros são beneficiados, tendo como consequência um retorno maior em dividendos. Segundo Anna Clara, foi por este motivo que os gestores de Fiagro começaram a lançar novos fundos com CRAs remunerando nesse formato.

“Com o aumento da Selic, o mercado começou a buscar mais esse tipo de retorno nos fundos imobiliários, mas não tinha muita opção”, diz. Os gestores de Fiagros, por sua vez, aproveitaram a oportunidade.

Para Anna Clara, com a Selic acima de 13% ao ano, um Fiagro com uma carteira de CRAs a CDI + 3,5% – o que pode ser considerado conservador neste universo – já garantiria um bom retorno ao investidor. Mesmo que a Selic volte a cair, a analista defende que o natural, no Brasil, são juros muito acima de 2% ao ano, menor patamar atingido pela taxa, em 2020. Em consequência, os dividendos dos Fiagros até podem diminuir, mas seriam razoáveis em uma estratégia de longo prazo.

“No caso dos Fiagros, que têm gestores ativos e também originam operações, é possível negociar spreads mais altos com os devedores. Em tempos de Selic baixa, eles podem oferecer ao investidor uma taxa fixa maior, para o retorno depender menos da parte variável”, explica.

Confira a lista completa de Fiagros de CRAs incluída no estudo do Quantum Axis:

Nome do Fiagro Ticker Data de estreia na B3 Valor do último rendimento distribuído por cota (maio/2022) Dividend Yield mediano (entre janeiro e maio/2022)
BB Fundo De Investimento de Crédito Agroimobiliário BBGO11 01/02/2022 R$ 0,62 0,60%
Devant Fiagro DCRA11 08/02/2022 R$ 0,14 1,37%
FG/Agro Fiagro FGAA11 12/01/2022 R$ 0,15 1,34%
Galápagos Recebíveis do Agronegócio Fiagro GCRA11 19/01/2022 R$ 1,57 1,25%
Kinea Crédito Agro Fiagro KNCA11 18/01/2022 R$ 1,44 1,12%
NCH EQI Recebíveis do Agronegócio Fiagro NCRA11 21/12/2021 R$ 1,01 0,45%
Riza Agro Fiagro RZAG11 14/10/2021 R$ 0,13 1,11%
Valora CRA Fiagro VGIA11 15/12/2021 R$ 0,15 1,35%
XP Crédito Agrícola Fiagro XPCA11 19/11/2021 R$ 0,14 1,35%

Fonte: Quantum Axis. Inclui Fiagros de CRA que apresentam distribuição de rendimentos mensal

 

Já os rendimentos dos FIIs de CRIs se beneficiaram, principalmente no começo do ano, da alta da inflação. Segundo Anna Clara, eles estão em alta entre investidores, já que diferentemente dos FIIs de “tijolo” (que investem diretamente em imóveis físicos), conseguem repassar a correção monetária todos os meses.

Fundos de “tijolo” não conseguem o mesmo efeito, segundo a analista, porque a valorização de um imóvel ocorre no longo prazo. “Estes fundos conseguem distribuir o aluguel, mas a valorização do imóvel não é distribuída, é vista no preço das cotas”, explica.

Confira os FIIs de CRIs com dividend yield mais elevado entre os 67 incluídos no estudo da Quantum Axis:

 

Nome do FII  Ticker Data de estreia na B3 Valor do último rendimento por cota (maio/2022) Dividend Yield mediano (entre janeiro e maio/2022)
CRI Integral BREI FII IBCR11 20/08/2021 R$ 1,22 1,55%
JPP Allocation Mogno FII JPPA11 22/11/2019 R$ 2,00 1,54%
More Recebíveis Imobiliários FII MORC11 24/11/2021 R$ 1,50 1,45%
Kilima Volkano Recebíveis Imobiliários FII KIVO11 14/03/2022 R$ 1,55 1,45%
Galapagos Recebíveis Imobiliários FII GCRI11 16/04/2021 R$ 1,51 1,43%
Hectare CE FII HCTR11 11/07/2019 R$ 1,75 1,42%
Riza Akin FII RZAK11 29/12/2020 R$ 1,80 1,42%
NCH Brasil Recebíveis Imobiliários FII NCHB11 09/04/2014 R$ 1,47 1,41%
RB Capital Recebíveis Imobiliários FII RRCI11 26/11/2020 R$ 1,40 1,41%
Urca Prime Renda FII URPR11 27/08/2020 R$ 2,01 1,40%
Valora CRI Índice de Preço FII VGIP11 20/03/2020 R$ 1,50 1,40%

Fonte: Quantum Axis. Inclui FIIs de CRI que apresentam distribuição de rendimentos mensal

Investir em FIIs ou Fiagro?

Para quem tem dúvida em investir em fundos imobiliários de CRIs ou Fiagros de CRAs, é importante levar alguns fatores em conta.

Maria Fernanda Violatii, analista de fundos imobiliários e fundos listados da XP Inc, explica que os fundos imobiliários têm a obrigação de distribuir no mínimo de 95% do lucro obtido no semestre. Embora o pagamento mensal de dividendos não seja obrigatório, a maioria dos gestores opta por este formato.

No caso dos Fiagros, a obrigação é a distribuição anual de 95% do lucro, sem recorrência definida, aponta ela. Os gestores, em geral, replicam os pagamentos mensais dos FIIs também nesses fundos.

Anna Clara, da Órama, explica que embora a recorrência da distribuição de dividendos dos Fiagros dependa dos gestores, a maioria opta por pagar mensalmente. “Nas ofertas públicas, os gestores sinalizam como pretendem fazer a distribuição, se mensal ou trimestral. Ou seja, existe uma política”, diz.

Tanto FIIs quanto Fiagros têm a distribuição de dividendos isenta de Imposto de Renda. Nos Fiagros, desde que se cumpram alguns critérios. “Os Fiagros precisam estar negociados na Bolsa, ter pelo menos 50 cotistas e nenhum deles pode ter uma participação superior a 10% do fundo”, explica Maria Fernanda. “Para o ganho de capital, Fiagro e FII pagam 20% de tributação”, completa.

A indexação mais comum é uma diferença importante. A maioria dos FIIs de CRIs são indexados à inflação, enquanto a maior parte dos Fiagros de CRAs são indexados ao CDI. Por esse motivo, as analistas consideram que os ativos não concorrem entre si. Podem, no lugar disso, fazer parte de uma estratégia complementar de diversificação.

Segundo a analista da Órama, mesmo com dividendos elevados, o universo de Fiagro ainda é incipiente. “Precisaríamos de pelo menos um ano de indústria para comparar ambas as classes e determinar quem paga mais”, destaca. Os Fiagros foram regulamentados pela CVM em julho de 2021.

“Os investidores que seguem os dividendos elevados podem complementar e diversificar a carteira com operações expostas ao agro, que entregam CDI e uma taxa, além de operações do segmento imobiliário, que oferecem inflação e spread“, diz Anna Clara. Ela reforça que como os Fiagros ainda são novos, muitos ativos estão mal precificados, o que pode oferecer ao investidor um desconto na compra em relação aos FIIs de CRIs.

Autor: Katherine Rivas — Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.

Publicação: Info Money. Publicado em 09/06/2022

Informações Financeiras: Quantum Finance 

Sair da versão mobile