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Vale a pena apostar na bolsa brasileira em 2022?

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Em um ano de incertezas,  uma das dúvidas do investidor é sobre se vale a pena alocar recursos na bolsa brasileira em 2022. Nesta análise para o Valor Investe, Carlos Heitor Campani realizou um levantamento histórico de várias bolsas, utilizando a plataforma Quantum. Confira a seguir o conteúdo na íntegra

Vale a pena apostar na bolsa brasileira em 2022?

Por Carlos Heitor Campani

Olá, pessoal. Nesse ano, nossa bolsa foi na contramão das bolsas mundiais. Até o fechamento desta última segunda-feira, ela se desvalorizava em mais de 11%, enquanto a maioria das principais bolsas do mundo encerrarão 2021 no azul. Mas será que isso não pode ser uma bela oportunidade? Será que nossos papéis já não precificam todo o cenário conturbado de 2022, incluindo uma eleição que tem tudo para ser excessivamente polarizada?

Bom, não costumo escrever textos opinativos. Não porque eu seja contra quem escreve, muito pelo contrário. Opiniões são importantes para que nós possamos formar a nossa. Contudo, dada a minha trajetória acadêmica, opto por escrever artigos técnicos e de cunho didático, com o intuito de agregar algo diferente e relevante para a sua análise. Desta maneira, não espere neste artigo minha opinião acerca da pergunta que fiz no título, mas, sim, uma análise técnica e fundamentada. Além disso, ressalto que esse texto é para investidores pacientes e de longo prazo. Então, vamos lá para o que eu tenho a compartilhar com vocês!

Como sempre digo, mas nunca é demais repetir, é impossível afirmar o que, de fato, irá acontecer com a nossa bolsa em 2022. Existem, sim, cenários nos quais a bolsa sobe bastante no ano que vem. E há, claro, cenários nos quais ela cai mais. Só o tempo dirá qual será o cenário que se apresentará. Não obstante, trago aqui uma análise histórica das principais bolsas mundiais que pode contribuir com suas decisões de investimento para 2022, olhando para os últimos 20 anos. Observe a tabela abaixo, onde coletei rentabilidades anuais de algumas das principais bolsas mundiais, além do nosso Ibovespa.

 

A tabela acima traz um ponto bem interessante. Analise com toda a atenção necessária.

Note que ressaltei em vermelho claro todas as rentabilidades negativas e em azul claro algumas rentabilidades positivas que indicam que, na maioria absoluta das vezes, houve ganho no ano seguinte. De 2002 a 2020 houve um total de 34 rentabilidades negativas para as sete bolsas analisadas. Perceba que, em nada mais, nada menos que 30 oportunidades, quem apostou na bolsa no ano seguinte teve um belo retorno. Esse percentual equivale a mais de 88%, e seria uma proxy para a probabilidade histórica de uma bolsa performar no azul após um ano no vermelho (chamamos isso de probabilidade condicional). Acreditem: esta análise não seria muito diferente se eu olhasse outras bolsas pelo mundo afora.

Analisemos agora as quatro vezes em que a bolsa voltou a cair depois de um ano no vermelho. Duas delas foram aqui mesmo no Brasil, tendo a bolsa brasileira caído seguidamente nos biênios 2013/2014 e 2014/2015. Mas perceba que quem segurou a aposta para o ano seguinte (2016) fez os dois retornos negativos de apostas, após o ano ruim de 2013, serem mais do que compensados com um retorno de 38,9%. Na Inglaterra, ocorreu exatamente assim: após um ano ruim em 2014, quem apostou na bolsa perdeu 4,9% em 2015, mas quem seguiu apostando mais do que recuperou o investimento, com 14,4% em 2016. Por fim, o quarto e último contraexemplo ocorreu na Austrália, em 2010/2011, mas note que houve recuperação em 2012 e bom lucro em 2013 para quem segurou a posição.

Estatisticamente, essa observação histórica equivale a conjecturar que um ano ruim da bolsa tende a ser seguido por um ano bom. Observe que “tender” não significa dizer que irá acontecer, mas que as chances são maiores que 50%. E, realmente, ao calcular a correlação das rentabilidades oferecidas pelas sete bolsas com as rentabilidades do ano anterior (o que denominamos autocorrelação de lag 1), todas elas apresentam autocorrelação negativa, como por exemplo: -0,30 (Ibovespa), -0,22 (S&P 500), -0,37 (Nasdaq) e -0,45 (DAX). E notem que essas autocorrelações são pressionadas para o lado positivo por conta de muitos anos de bolsas no azul, de forma que a evidência histórica se revela significativa.

Mas será que a bolsa brasileira em 2022 seguirá essa regra? Só o tempo dirá. Mas, para muitos, a aposta valerá e quis compartilhar essa análise. Para outros, o risco não valerá a pena. Depende de cada um. No final das contas, cada investidor deve tomar suas próprias decisões, municiado do máximo de informações que for conveniente. Meu objetivo é te ajudar nessa decisão.

  • Carlos Heitor Campani – Professor de Finanças do Coppead/UFRJ. Pesquisador, Consultor e Autor na área de Investimentos, Previdência, Finanças Pessoais e Finanças Corporativas.
  • Sistema de Dados e Informações Financeiras:  Quantum Axis
  • Fonte: Valor Investe– publicado em 29/12/2021
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