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Reforma tributária e fundos imobiliários | Análise Valor Investe

Quantum Análise Fundos Imobiliários Valor Investe Jul 21

As perdas dos fundos imobiliários não se devem apenas ao risco do fim da isenção fiscal sobre os rendimentos distribuídos. No especial do Valor Investe sobre a classe de ativos, outros são fatores além do suposto fim, este que ganhou força com a proposta da segunda fase da reforma tributária entregue ao Congresso. A Quantum foi convidada para contribuir com a reportagem, extraindo dados e realizando análises para entender melhor o mercado.

Segundo a matéria, a classe parece caminhar em cima de uma corda bamba em 202. Seu principal indicador, o Ifix, acumula queda de 4,02% no ano até o mês passado. Entre janeiro e abril, quase todos os segmentos de FIIs sofreram recuos, com exceção da categoria de renda fixa, que tem a carteira concentrada em recebíveis imobiliários (CRIs) e outros títulos. Em maio, no entanto, nenhum segmento conseguiu sair ileso. E, em junho, o cenário turbulento prevaleceu, mas com uma pitada ainda mais negativa em razão da proposta que pretende tributar em 15% os rendimentos distribuídos pelos FIIs às pessoas físicas.

Nem os investidores com uma bem carteira diversificada conseguiram escapar das perdas da categoria no período. Segundo o levantamento realizado pela Quantum,  até o dia 25 de junho somente o segmento de lajes corporativas que ficou no azul – e por pouco. Já os fundos imobiliários de recebíveis, CRIs e outros títulos tiveram o segundo mês negativo no ano, após resultados atraentes nos períodos anteriores. As maiores perdas, no entanto, vieram dos setores residencial e de fundos de fundos (FOFs). Confira a seguir  a tabela por categoria:

Retorno mensal do segmento de FIIs em junho

Fonte: Quantum Axis

Sobre o desempenho do segmento de lajes corporativas, Caio Ventura, analista da Guide Investimentos, lembra que, atualmente, os fundos estão ainda mais descontados que os de shopping. Por tal razão, complementa, o setor consegue segurar mais as pontas devido à dinâmica de valuation que apresenta. Abaixo é apresentado o retorno dos fundos de lajes corporativas em junho:

Retorno dos fundos de lajes corporativas

Fonte: Quantum Axis

Segmento Residencial e Fundos de Fundos: maior baque

segmento residencial, por sua vez, composto apenas por um fundo listado na B3, o Mérito Desenvolvimento Imobiliário I FII (MFII11), possui, na visão de Ventura, dois motivos para ter apresentado o pior desempenho no período. “O primeiro trata-se da alta de juros, pois a perspectiva de vendas fica mais deteriorada visto que o custo para financiamento de imóveis aumenta.” O segundo ponto, finaliza, diz respeito à menor liquidez da categoria, que é recente no mercado e, por isso, pode sofrer volatilidades mais acentuadas.

Apesar da intensa perda do setor residencial no mês, o analista da Guide diz que os FOFs, com o segundo maior tombo no período, podem ser a mais impactados pela proposta de reforma porque dependem da performance do mercado secundário. “Em razão da posição em que estes fundos estão alocados, eles tendem a sofrer maior turbulência pois são prejudicados no potencial de geração de receita e dividendos”, explica. “Frente a uma apreensão maior quanto a uma possível redução de dividendos, como o texto prevê, a categoria caiu mais que a média do mercado”, afirma.

O analista chama atenção ainda para os juros futuros, que são usados para analisar a atratividade dos fundos imobiliários. “A categoria ainda oferece um retorno em dividendos razoavelmente alto, com uma diferença entre os títulos de longo prazo de 4 pontos percentuais. Mas, com a aprovação da tributação, esse número ficaria em torno de 2,8 pontos percentuais”, destaca.

Retorno FOFs

Fonte: Quantum Axis

Além da reforma

Desde o início da pandemia, os fundos de tijolo, que investem em imóveis, foram os que mais sofreram com as medidas restritivas decretadas pelos Estados e municípios. Todavia, os fundos de logística, que investem em galpões de centro de distribuição, se beneficiaram do crescimento expressivo do comércio eletrônico. Ao lado de recebíveis, foram os que mais se destacaram no auge da crise. Mas, de lá para cá, algumas coisas mudaram.

A pesquisa feita pela Quantum aponta que o segmento de logística acumula perdas expressivas. Em maio, registrou a segunda maior queda, de 2,26%. No mês de junho, até o dia 25, o recuo chegou a 4%. Em paralelo, depois de quatro meses de invencibilidade, os fundos imobiliários de renda fixa fecharam no vermelho por duas vezes, com baixas de 0,83% e 1,84%.

O analista da Guide, consultado pelo Valor Investe, explica que o setor de recebíveis vinha, desde o segundo semestre do ano passado, em um ritmo de crescimento forte na valorização da cota no mercado secundário. E tal movimento de alta, poderia ser atribuído ao descontrole de índices inflacionários, com destaque para o IGP-M, utilizado para o reajuste de alguns aluguéis, que avançou 23,14% em 2020. Como a indústria tem alguns fundos de recebíveis expostos a este indexador, eles repassaram a correção em forma de ganhos para os cotistas. 

No ano passado, o retorno em dividendos (dividend yield) dos fundos de recebíveis, CRIs e outros títulos ficou em 7,61%, enquanto que, de janeiro até o dia 25 de junho, o yield acumulado já chega a 5,64%. Ainda, neste mesmo período, dos 28 fundos imobiliários de renda fixa listados no Ifix, 24 estão com yield acima de 4%. A tabela abaixo evidencia esse cenário

Retornos em dividendos dos fundos imobiliários de Renda Fixa

Fonte: Quantum Axis

Mas, então, o que justifica a queda do segmento?

Segundo o especialista ouvido para a reportagem do Valor Investe, a previsão para os indexadores inflacionários é de normalização ao decorrer do ano, sobretudo o IGP-M, que tem volatilidade de commodities e do dólar. Entãocomo alguns ativos estavam muito valorizados, acabaram sendo reprecificados por conta da estimativa de arrefecimento da inflação.

Vale lembrar, porém, que a proposta de reforma apresentada pelo governo não inclui a tributação dos CRIs, que seguiriam isentos. “A não menção da categoria no texto foi bem interpretada pelo mercado e acabou sendo positiva para os fundos imobiliários de CRI, que acabaram caindo menos que outros setores”, observa Ventura.

Fonte: Quantum Axis

O que esperar?

Na avaliação do analista da Guide, as taxas de dividendos do segmento de recebíveis devem ser reajustadas ao decorrer do ano em razão da expectativa para o IGP-M, que é a de que o índice perca um pouco de força na segunda metade de 2021. “Essa manutenção deve trazer patamares de dividendos mais compatíveis com o que vemos no histórico do setor”, frisa. “A aceleração do IGP-M acontece por causa da crise de covid-19, então não se pode esperar, de jeito nenhum, que esse seja o novo normal”, complementa.

Ricardo Almendra, sócio-fundador e presidente da RBR Asset, também consultado pelo Valor Investe, mantém as perspectivas positivas para os fundos de recebíveis em razão dos juros e da inflação. Para ele, a pressão inflacionária vindo de alguns segmentos importantes da economia pode beneficiar o segmento. “Com a crise energética e a aprovação do aumento de preço da energia, a inflação deve se manter em um nível alto. Além disso, com a mesma tendência prevista para a Selic, os fundos imobiliários de renda fixa conseguem surfar a onda dos dois componentes, já que são indexados ao CDI mais juros ou à inflação mais juros”, destaca.

Já em relação ao cenário do setor de logística neste ano, Ventura explica que o segmento já estava saturado, visto o nível de preços que apresentava, com valuations mais elevadas. “Os fundos de logística foram procurados pelos investidores que buscavam pouca volatilidade e renda estável”, afirma. Logística perdeu um pouco a característica de resiliência a partir março, diz o analista, quando teve a primeira queda mais expressiva, de 1,72%, em virtude das expectativas de retomada da economia, que levou aos níveis de preços vistos atualmente.

Retorno mensal dos fundos imobiliários de logística em 2021 (em %)

Fonte: Quantum Axis

Em 2020, o dividend yield anual de logística ficou em 5,77%. Entre janeiro e o dia 25 de junho, o percentual é de 3,78%, conforme pesquisa feita pela Quantum Axis. E, dos 12 fundos imobiliários de logística que compõem o Ifix, apenas cinco estão com o yield superior a 4%.

Retornos em dividendos dos fundos imobiliários de logística

Fonte: Quantum Axis

Almendra, da RBR Asset, atribui a queda a um movimento no qual existe menor apetite e demanda dos investidores por fundos de tijolo. “O país tem uma economia em recuperação, um ambiente inflacionário alto e a Selic subindo. Isso faz com que o cenário seja menos favorável para ativos de tijolo e mais interessante para os de crédito”, afirma.

Ainda, para o profissional, não há uma perspectiva de avanço significativo para os fundos de logística, pois eles não são baratos e a maior parte dos contratos de locação são pré-fixados. “E, para completar, o aluguel que os inquilinos pagam, feito por meio de contratos atípicos, não tem a possibilidade de subir significativamente se estiver perto de vencer, o que impede o aumento da renda desses fundos imobiliários”, conclui.

 

Reportagem: Yasmim Tavares, Valor Investe — Rio
Matéria na íntegra: Valor Investe
Publicação: 06/07/2021

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