Diversificação é um célebre postulado em gestão de investimentos. Carlos Heitor Campani, expert em Finanças e colunista do Valor Investe, explica melhor porque a diversidade é tão comentada. “Dada uma rentabilidade almejada, devemos procurar a carteira com potencial de entregá-la e com o menor risco possível. No intuito de proteger a sua carteira contra riscos indesejáveis, há algumas soluções, mas a diversificação é a única delas que não cobra nada além do conhecimento”. E com conhecimento e informação – esta provida pela Quantum – o especialista comenta sobre rentabilidade no mercado de ações estrangeiro em sua nova análise para o veículo.
O princípio da diversificação aplicado a bolsas internacionais
Campani esclarece que a diversificação de uma carteira reduz o risco sem pressionar a rentabilidade para baixo, pois não há prêmios a pagar. “É como jogar um dado (alternativa não diversificada) ou diversos dados simultaneamente (alternativa com diversificação). Não importa quantos dados jogamos, a expectativa é sempre 3,5 (média de um a seis). Mas, o risco do resultado diminui bastante ao aumentar o número de dados que jogamos. Basta pensar que a chance de se obter o pior resultado possível (um) ao se jogar um único dado é uma em seis (16,7%) e ao se jogar cinco dados é um sexto elevado à quinta potência (0,01%)!”, completa.
Quando pensamos no mercado de ações, em geral temos a ideia de uma boa dose de risco. Isso porque pensamos no risco da bolsa brasileira. “E se pudéssemos investir em ações pelo mundo afora? Bom, isso vem se tornando cada vez mais possível com ETFs e BDRs, instrumentos considerados pelo expert acessíveis a qualquer investidor. Não temos acesso no mercado brasileiro a ETFs de índices de ações de bolsas tais como do México, Austrália, Zona do Euro etc. Mas isso está cada vez mais evoluindo e a disponibilização de cestas de ações do mundo na B3 é algo que me soa natural e completamente desejado”, revela Campani.
O pesquisador e professor em Finanças propõe uma análise para entender a diversificação aplicada a bolsas internacionais. Ele compõe uma carteira rebalanceada mensalmente e investida de maneira talmúdica (ou seja, uma carteira igualmente ponderada) nos seguintes índices de ações internacionais: IBRX 100 (bolsa brasileira), S&P 500 (bolsa estadunidense), EURO STOXX 50 (ações de empresas da zona do Euro), HANG SENG (bolsa de Hong Kong), NIFTY 50 (bolsa da Índia), NIKKEI 225 (bolsa do Japão) e S&P ASX 200 (bolsa da Austrália). Todos os dados foram retirados do Quantum Axis, plataforma líder em soluções de inteligência para o mercado financeiro.
Como o foco da análise é o investidor brasileiro e residente no país, todos os índices tiveram seus retornos convertidos para o Real, representando rentabilidades que já incorporam os efeitos das moedas envolvidas Já o período de análise é de 10 anos, iniciando em julho de 2011 e encerrando em junho deste ano. A tabela abaixo compartilha as rentabilidades e volatilidades apresentadas por nossa carteira de ações internacionais e por cada um dos sete índices utilizados.
Campani reforça a eficiência e aplicabilidade do conceito da diversificação. A carteira montada bateu a rentabilidade de cinco dos índices e rendeu menos apenas do que os índices dos Estados Unidos e do Japão, mas com volatilidade nitidamente menor. “Alguns dirão que ter investido todas as fichas no S&P 500 teria rendido acima da nossa carteira, mas o problema é que não sabemos qual bolsa renderá mais a priori. A incerteza é parte inerente do jogo. Ao investirmos na carteira diversificada não precisamos tentar acertar o cavalo que ganhará a corrida e teremos a tranquilidade de que nossa escolha foi eficiente.”
A relação rentabilidade vs. risco de carteiras bem diversificadas é altamente eficiente. Por exemplo, a rentabilidade da carteira em questão foi a mesma que a da bolsa indiana, mas com muito menos risco, pondera o especialista.
“O mais interessante disso tudo é que o risco do mercado de ações, além de ser reduzido com uma carteira mundial de ações, pode ser ainda mais reduzido a critério do investidor através de uma ponderação entre as ações e o nosso CDI (taxa livre de risco). Observem a incrível relação entre rentabilidade e risco no gráfico abaixo, no qual simplesmente montei diversas carteiras com X% investido na carteira diversificada montada acima e 100 – X% investido no CDI. Ao reduzirmos o risco, nossa propensão a maiores ganhos também diminui.” O gráfico a seguir evidencia a análise de Campani:
O especialista conclui sobre sua análise sobre rentabilidade nas bolsas internacionais: “A diversificação é muito importante porque gera uma relação rentabilidade vs. risco mais interessante. E quis dividir com vocês que o mercado de ações é muito maior do que a bolsa brasileira e até mesmo do que a bolsa dos Estados Unidos. Quanto mais mercados tivermos ao nosso dispor, mais interessante “o jogo” se apresenta para nós, investidores.”
Autor da Análise: Carlos Heitor Campani – Professor de Finanças do Coppead/UFRJ. Pesquisador, Consultor e Autor na área de Investimentos, Previdência, Finanças Pessoais e Finanças Corporativas.
Fonte: Valor Investe – publicado em 14/7/2021